quarta-feira, 31 de agosto de 2011

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 6)


Cantaria em lioz... Património original do conjunto que foi preservado permitindo garantir o principal objectivo que era manter o aspecto exterior.

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 5)


Verão de 2002
Iniciámos a obra e por paradoxal que pareça a primeira fase foi a demolição de partes da casa e de um telheiro que além de não ser original impedia a entrada de luz. As duas casas eram em grande parte ocupadas por zonas de produção de aguardente. Algumas descrições dos mais antigos relatam que a destilação era feita num enorme alambique em cobre que se encontrava onde hoje é a nossa cozinha. O armazenamento do mosto era feito em cubas onde hoje é a nossa sala. Curioso é o facto de, talvez por premunição dos tempos modernos, a área de habitação de cinco divisões ocupava pouco mais de 40 m2. Esta evidência ainda foi constatada por nós apesar do muito mau estado em que tudo se encontrava. Aliás a enorme degradação que verificámos nas duas casas determinou que a obra começasse exactamente aí. 
Do que encontrámos apenas aproveitámos as paredes de cerca de um metro de espessura e as cantarias em lioz, pedra calcária muito usada na época em estatuária e na arquitectura. Era já intenção manter toda a arquitectura exterior do conjunto preservando a traça original.

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 4)

Pormenor/Curiosidade:
A adega repleta de pipas e toneis para vinho apresentava em muitos deles curiosas inscrições de temática e cariz próprios destes ambientes marcados pelo entusiasmo e inspiração que, neste caso, um Baco saloio  terá distribuído em demasia provavelmente usando para o efeito vapores etilizados que, como sempre, acabam por condicionar o milagre do raciocínio.   
- "O vinho é a alegria do povo" - (discutível mas regista-se...)
- "O amor a alegria de quem ama" - (será de La Palisse?)


9 meses... 9 anos... (ponto de partida 3)

Os teus, os meus, os nossos e os dos amigos dias antes do inicio da obra.

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 2)


9 meses... 9 anos... (ponto de partida 1)


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Interlúdio

E de como aconteceu já chega, achamos nós. Já um pouco desgastados de usar os tempos verbais no passado ao mesmo tempo que na realidade estamos já a construir o futuro, seja lá ele qual for, é uma tarefa de uma certa bipolaridade. Simultaneamente descrevemos acontecimentos do passado que o tempo se encarregou de filtrar e encaramos as dificuldades que o presente nos oferece como matéria prima de consolidação da estrada que é a aventura do futuro onde o mesmo tempo nos obriga a participar como protagonistas. É a serenidade das certezas do passado misturada com a ansiedade das dúvidas do futuro temperadas com a realidade do dia a dia que por ser ás vezes dura nos deixa com aquela sensação de estar numa encruzilhada.
Habituámos-nos, por força de outras exigências, a conviver com o passado que não sabemos alterar e o futuro que não sabemos adivinhar e que a vida se torna um caos se tentamos esquecer estas implacáveis e inalteráveis verdades. A receita parece estar na concentração no presente que se for bem aplicada pode abrir, sem compromisso, caminho a um futuro melhor e se assim não for pelo menos poupa-nos a sofrimentos desnecessários.
Para servir como interlúdio vamos postar umas fotografias da (re)construção daquela que é a nossa habitação actual e que, desgraçadamente, demorou nove meses de uma gestação difícil cheia de percalços.
Como acreditamos nas leis da causalidade não vamos expiar aqui as transgressões que fizemos à lei divina tantas foram a pragas que rogámos ao aldrabão do "construtor" que, por qualquer causa, nos calhou em sorte. Foi exactamente essa péssima experiência que nos forçou a conhecer o homem que para além de ter terminado a obra tem, nestes últimos nove anos, feito todas as alterações e melhoramentos que entendemos por bem executar - o Sr. Tião - homem simples de muita sabedoria, pedreiro de profissão, abraça sem hesitações todas as tarefas que uma obra obriga. É, por assim dizer, um verdadeiro profissional multifacetado que alia a essa qualidade uma integridade digna de menção. Sobre ele falaremos mais adiante por ser incontornável nesta história.
Após este ensaio sobre a lei da causalidade que por ser integralmente verdadeiro deixaria qualquer budista orgulhoso das suas convicções, decidimos dar a estes próximos capítulos, com mais imagem do que texto, o titulo de "9 meses...9 anos..."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Como Aconteceu (Parte 10)

Começamos por reforçar a dose de caldos de galinha que é como quem diz tomámos algumas precauções que também não fazem mal e ainda porque a prudência assim  exigia. Como é sabido o entusiasmo tolda a virtude dos cautos mas neste caso, com a cumplicidade dos astros, resolvemos não exagerar no exercício dos cuidados prévios que receávamos viesse a revelar dificuldades que não nos apetecia somar às que já sentíamos.
Mesmo assim mobilizámos conhecimentos e à cabeça privilegiámos o parecer de alguém que sabe o que fazer de uma ruína tornando-a útil sem ferir a paisagem e para isso nada melhor que um arquitecto que por ser da família não nos fizemos rogados nem usámos de cerimónia até porque já o tínhamos forçado a participar noutras reconstruções bem mais difíceis que por não constarem em nenhum currículo universitário são de inestimável valor. Metáforas... coisas que mantemos sempre presentes mas que não fazem parte desta história. 
Outras romarias organizámos com amigos cujas opiniões foram bem-vindas e que não negamos terem servido principalmente de encorajamento. Sentíamos a necessidade de conjugar as forças que tínhamos e que conhecíamos com aquelas que por serem celestiais não compreendemos mas que em ocasiões passadas já nos tinham provocado arrepios na espinha.Claro que tivemos que subtrair as opiniões - vocês são malucos - que apesar de corresponderem a uma opinião quase generalizada e se calhar verdadeira da nossa maneira de encarar as coisas, também nos pareceu ser uma forma de alguns expressarem a vontade de também o ser.
Alguns dias depois firmávamos o acordo com a proprietária. senhora de muita lisura, honrou até final os compromissos assumidos e com a tranquilidade possível nestas coisas, tratámos das burocracias inerentes. No início do verão tomámos posse do edifício na aldeia da Gozundeira, nome que levámos algum tempo a assimilar e que tem origem nas eiras que por aqui existiam. Localmente a zona é conhecida pelos "Moinhos" razão que terá levado a que a rua fosse baptizada com essa designação (Rua dos Moinhos). O oeste é famoso pelos seus moinhos de vento mas aqui por ser um vale e dada a proximidade do rio Sizandro, são de água.    

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Primavera de 2002... os astros tinham ditado que seria a nossa casa...

Como Aconteceu (Parte 9)

No regresso demos largas à imaginação. O que fazer? Sem termos ainda uma ideia exacta da dimensão dos espaços, dividíamos já as áreas de acordo com as necessidades de cada um. As crianças aderiram de imediato ao sonho e logo começaram a disputar as melhores soluções. Na verdade o estado de degradação das duas casas era tal que mal pudemos ver o seu interior. A adega de grandes dimensões e em razoável estado de conservação, foi a zona da casa mais disputada e longas foram as divagações sobre a sua futura utilização. Sentimos que aquela casa já era nossa, a confirmação de tal certeza vinha de uma qualquer "força superior" que  parece ter tornado irreversível esse facto. Os astros tinham ditado que assim seria.
Acabados de chegar a casa precipitámos-nos para o telefone e, à senhora a quem os astros tinham já decidido passar à condição de "ex-proprietária", relatámos a nossa visita à ainda sua propriedade.
Vivia-se por esses dias a euforia do Euro (€). Levantavam-se notas como se fossem certificados de prosperidade eterna. Porventura como a nossa atenção estava dividida entre as obrigações profissionais e este desafio de mudança de casa, não nos entusiasmámos com a alteração da moeda. No entanto não estávamos isentos da dificuldade de adaptação e fazíamos, como toda a gente, contas à paridade com o escudo. Apesar dos sustentados conhecimentos de matemática que nos orgulhamos de possuir, sempre recordamos que foi com alguma atrapalhação que recebemos a notícia do valor de venda transmitido em Euros pela proprietária nessa mesma noite. Só para não darmos parte fraca evitámos a fatídica pergunta - e isso quanto dá em contos? - Ficámos de dar uma resposta mais tarde.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

... está muito velha e estragada, faz muito tempo que ninguém a habita...

Como Aconteceu (Parte 8)

Aparentados a membros de seita, em silêncio seguimos a senhora em todos os seus passos através da simpática aldeia e após atravessá-la, descemos uma estreita estrada ladeada por um riacho. Já tínhamos deixado o casario para trás quando avistámos do lado direito um conjunto de casas rurais de dimensão considerável e uma outra casa mais adiante. Nada mais parecia haver por perto. Aumentava a expectativa quanto ao destino. O passo lento da velha senhora impedia que o andamento fosse sincronizado com o  nosso ritmo cardíaco acelerado pela ansiedade. A curiosidade era grande até porque era a primeira casa que íamos ver decorrente da nossa prospecção. Mantendo o silêncio continuámos a descida até que, a nossa determinada guia, puxou por um baraço e do bolso do avental surgiu um molho de chaves tendo dele isolado uma e, como que a desculpar-se, disse - está muito velha, faz muito tempo que ninguém a habita... - e lá estava! A líder da pequena excursão acabava de abrir o loquete do conjunto de casas que havíamos avistado minutos atrás. De facto, como nos tinham dito, não era uma casa pequena, de pequena nada tinha.
Falta-nos a habilidade literária suficiente para relatar o que sentimos. Um cadinho emocional fundia as primeiras impressões. Apesar de ainda ser possível imaginar quão bonito teria sido tudo aquilo no passado , o estado de degradação era tal que nos deixou confusos. O que ainda hoje nos questionamos é a razão da imediata filiação àquele local. Nas cantarias podia-se ler que a construção datava de 1887. No lagar da adega a inscrição "1888" dava conta que, naqueles tempos, a edificação tinha uma velocidade muito própria, além de confirmar o que visualmente era evidente - a antiguidade dos edifícios.
Minutos depois pedíamos à solicita e recém-consagrada mediadora que nos facultasse o contacto da proprietária.