segunda-feira, 25 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 7)

Como todos os bons momentos este também chegou rapidamente ao fim e à desilusão de não termos avançado na nossa missão misturou-se a serenidade que o ambiente proporcionou e como amanhã também é dia, resolvemos regressar. Quatro quilómetros a descer por entre uma paisagem genuinamente rural, chegados a um vale onde descansam as colinas que suportam o Sobral, deparámos com uma aldeia de paredes brancas e telhados encarnados que parecia ter deslizado suavemente e ali parado numa ordenação peculiar. O sol do fim da tarde evidenciava-lhe o contraste das cores proporcionando-lhe uma beleza tão distinta que logo nos apeteceu ver de perto e como ficava em caminho...
Subimos uma pequena rua que leva até à Praça Principal. Aí uma singela e simpática capela ostentando um campanário de dimensão condizente e um recatado café fazem as honras. E porque não? Pensámos... saindo do carro com aquela energia de quem enfrenta o destino, dirigimos-nos ao café. Entrámos obrigando  a  interromper a cavaqueira às três senhoras que lá se encontravam para que pudessem retribuir o nosso cumprimento e a quem de seguida "disparámos" a pré-fabricada pergunta - por acaso uma das senhoras conhece  alguém que tenha uma pequena casa para venda? - surpreendidas pelo rompante do cumprimento  seguido de um invulgar pedido, entreolharam-se como que para ganhar tempo e pensar, foram respondendo - assim de repente não estou a ver ninguém... bom! o "este e aquele", em tempos, mas não é aqui, é mais além... - como não obtivemos a resposta desejada, fomos agradecendo e debandando de volta ao carro. Já quase a arrancar a senhora mais idosa daquele grupo, dirigiu-se-nos - esperem! talvez uma casa muito velha lá pra baixo, mas não é pequena! 
Logo perguntámos como poderíamos ver a tal casa. A boa senhora logo se dispôs a fazê-lo depois de recolher a chave que guardava na sua casa no centro da aldeia. Entretanto foi explicando que lhe tinham confiado a chave para acudir a uma qualquer eventualidade e que em tempos tinha abordado a possibilidade de vender mas que o tempo vai passando e... venham ver e se ficarem interessados eu falo com a proprietária, concluiu.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 6)

Mais uma vez orientados para oeste, rumámos a Sobral de Monte Agraço onde tínhamos experimentado a boa sensação do espaço livre, paisagens verdes, pouco trânsito e como já se referiu, boas pessoas. Claro que, como ponto de partida, uma condição intransponível estava subjacente a tudo isto - a distância - tinha de ser relativamente fácil de percorrer não só pelos compromissos profissionais mas também pela parte da família que, de quinze em quinze dias, ansiosamente esperávamos ver reunida e que afinal estava também na origem de todas as decisões.
A pesquisa começou bem cedo sem contudo ter sido muito animadora pelos desencontros que o fim-de-semana causa e porque a Feira Mensal coincidiu com a nossa visita e deixara as pequenas aldeias despovoadas e portanto sem possibilidade de fazermos contactos. Artesanato, flores, tachos e panelas, vestuário de todos os géneros, loiças desviaram a nossa atenção e como atracção a bela da fartura que por muito desaconselhada não deixa de pertencer ao lote das tentações que, como é sabido, são as únicas situações em que não resistimos.
Perdida que estava a manhã para o nosso propósito, resolvemos almoçar. Ao acaso escolhemos um restaurante que por ser central nos pareceu bom para sentir o ambiente. Compensados com um delicioso bife, verificámos a calmaria das gentes e apesar de ainda forasteiros, sentimos uma enorme vontade de ali ficar desfrutando daquele atendimento tão gentil, tão diferente... a sensação era de que estávamos muito longe e afinal menos de 40 quilómetros nos separavam da casa que, apesar de ter sido cúmplice em momentos de muita felicidade, já tínhamos sentenciado à condição de boa recordação. 

domingo, 10 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 5)

Curiosamente tornou-se empolgante contar como tudo aconteceu. Não fora cá por coisas e desatávamos a contar os pormenores todos e isto era capaz de virar um daqueles livros típicos de pivot de jornal televisivo com 1001 páginas (a capa e "praí" 1000 folhas a seguir). Mas não!... não arriscaríamos abusar assim da paciência de ninguém até porque, se calhar, faltar-nos-ia inspiração para tanto.
Parte 5 - O tempo, ávido de nos consumir a existência, não dava tréguas. A semana corria entre canseiras, preocupações e o terminar e iniciar de acontecimentos. Não diferia muito da maioria dos que vivem na cidade só que nós, decididos a mudar, sonhávamos já com o refúgio que em breve encontraríamos e que nos libertaria dos males da urbe.
A contagem decrescente para o fim-de-semana não tinha como objectivo fazer a ponte por cima das obrigações profissionais por as entendermos como empecilhos de vida. Antes pelo contrário, ambos gostávamos do que fazíamos e cientes da sua importância dedicávamos-lhe toda a merecida atenção. Na verdade, desejávamos dar mais um passo naquela prospecção iniciada uns dias atrás e como desta feita todos estariam disponíveis, combinámos com antecedência como iríamos preencher o tempo de maneira a rever alguns locais e procurar novos.    
  

Início 2002 - A jornada de prospecção terminara era hora do descanso do Kiko, não tarda o despertador toca para mais uma semana de escola.

sábado, 9 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 4)

Em vão procurámos ser correspondidos às inúmeras tentativas de contacto com o número de telefone que a "imobiliária" anunciava. Mas já estávamos em campo e restava-nos usar os conhecimentos adquiridos de prospecção comercial, mistura de intuição com aventura, e  lá fomos perguntando aqui e acolá quem conhecia um terreno ou uma pequena casa para venda.
Nesse primeiro fim-de-semana deste trabalho sem a companhia da mãe que por dever profissional não nos pode acompanhar, o Kiko, o mais novo da família, que conseguindo falar horas a fio carinhosamente comparávamos ao animalzinho de orelhas grandes do filme Shrek, não deixou que o cansaço da jornada nos afastasse do objectivo.
O contacto com este e aquele permitiu-nos não só conhecer a zona como perceber que a atitude das gentes daqui era bem diferente daquela que constatávamos trinta e poucos quilómetros a sul. Pessoas simpáticas, em maioria bem humoradas, prestáveis e que iniciam o diálogo com o desconhecido com um cumprimento adequado à hora do dia. Aqui já tínhamos a certeza que o destino, o que quer que seja, nos tinha colocado na rota certa e que a partir de agora era navegar de olhos bem abertos para que a intuição nos mostrasse onde lançar a âncora.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 3)

Coincidência ou não, o destino tem destas coisas, passeava em Miraflores e consultando o escaparate de uma imobiliária procurava entre as várias ofertas, quanto espaço o nosso dinheiro podia comprar e desde logo ficou claro que, uma vez mais, teríamos que ser nós a procurar o nosso caminho tão elevados que eram os valores das propostas ali apresentadas com a agravante que nenhuma correspondia minimamente ao que sonhávamos. O nosso imaginário prendia-se com a minúscula casa que, ainda namorados, alugámos perto dos mares revoltosos da costa saloia e onde já  tínhamos experimentado o sabor do espaço (e outros...). Não era mudar de caixote que pretendíamos!... e lá estava num canto inferior da montra um pequeno anúncio que publicitava um terreno a preço diferente lá prós lados de Sobral de Monte Agraço e logo decidimos investigar.
Restava pôr em prática aquilo que a vida, por outras razões, já nos tinha ensinado - vale a pena lutar - e à boleia do velho ditado quem procura sempre alcança, no fim-de-semana imediatamente seguinte, fizemos-nos à estrada rumando a Oeste cientes que outros destinos mais apelativos não teriam correspondência nas nossas disponibilidades financeiras da altura nem nas que a imaginação podia projectar.