terça-feira, 4 de outubro de 2011

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 9)

O incansável Kiko, sempre atento a todas as movimentações, mostrou muitas vezes um entusiasmo que ao grandes parecia faltar. Esse entusiasmo nunca até hoje esmoreceu. A prestação do Kiko tornou-se imprescindível e a sua ajuda valiosa em todas as fases da reconstrução e melhoramento da casa. Sem exagero podemos afirmar que, desde 2002, muitos dos melhoramentos que levámos a cabo só foram possíveis pela participação dele. Claro a compensá-lo goza de um espaço pouco usual nos dias de hoje com mais de 40 m2, casa de banho privativa e, apesar da sempre difícil arrumação, tem ele próprio assegurado a sua manutenção periódica.  

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 8)

Algumas vezes sentimos-nos pequenos para tão grande tarefa tais eram as dificuldades que o aldrabão do empreiteiro nos arranjava. Nas adversidades íamos arranjando forças que suspeitávamos virem dos astros e que hoje, já com essa certeza, interpretamos como  provas que a alma desta casa nos exigia que atestassem intenções de respeito pelas rugas da velha senhora que não queriam ser ignoradas.

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 7)

A intervenção de máquinas modernas foi necessária para restituir à centenária construção a jovialidade original. Proporcionou também o melhoramento do logradouro que oferecia já a esperança de convívios à volta de um grelhador, pequenos almoços ao ar livre no cálido amanhecer primaveril e outras divagações que na altura eram já causadoras de ansiedade. Reunir meios para levar a cabo todas as tarefas necessárias à boa execução da obra numa zona totalmente desconhecida foi uma dor de cabeça que só encontrava analgésico à altura na satisfação de vermos ultrapassadas as dificuldades.   

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 6)


Cantaria em lioz... Património original do conjunto que foi preservado permitindo garantir o principal objectivo que era manter o aspecto exterior.

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 5)


Verão de 2002
Iniciámos a obra e por paradoxal que pareça a primeira fase foi a demolição de partes da casa e de um telheiro que além de não ser original impedia a entrada de luz. As duas casas eram em grande parte ocupadas por zonas de produção de aguardente. Algumas descrições dos mais antigos relatam que a destilação era feita num enorme alambique em cobre que se encontrava onde hoje é a nossa cozinha. O armazenamento do mosto era feito em cubas onde hoje é a nossa sala. Curioso é o facto de, talvez por premunição dos tempos modernos, a área de habitação de cinco divisões ocupava pouco mais de 40 m2. Esta evidência ainda foi constatada por nós apesar do muito mau estado em que tudo se encontrava. Aliás a enorme degradação que verificámos nas duas casas determinou que a obra começasse exactamente aí. 
Do que encontrámos apenas aproveitámos as paredes de cerca de um metro de espessura e as cantarias em lioz, pedra calcária muito usada na época em estatuária e na arquitectura. Era já intenção manter toda a arquitectura exterior do conjunto preservando a traça original.

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 4)

Pormenor/Curiosidade:
A adega repleta de pipas e toneis para vinho apresentava em muitos deles curiosas inscrições de temática e cariz próprios destes ambientes marcados pelo entusiasmo e inspiração que, neste caso, um Baco saloio  terá distribuído em demasia provavelmente usando para o efeito vapores etilizados que, como sempre, acabam por condicionar o milagre do raciocínio.   
- "O vinho é a alegria do povo" - (discutível mas regista-se...)
- "O amor a alegria de quem ama" - (será de La Palisse?)


9 meses... 9 anos... (ponto de partida 3)

Os teus, os meus, os nossos e os dos amigos dias antes do inicio da obra.

9 meses... 9 anos... (ponto de partida 2)


9 meses... 9 anos... (ponto de partida 1)


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Interlúdio

E de como aconteceu já chega, achamos nós. Já um pouco desgastados de usar os tempos verbais no passado ao mesmo tempo que na realidade estamos já a construir o futuro, seja lá ele qual for, é uma tarefa de uma certa bipolaridade. Simultaneamente descrevemos acontecimentos do passado que o tempo se encarregou de filtrar e encaramos as dificuldades que o presente nos oferece como matéria prima de consolidação da estrada que é a aventura do futuro onde o mesmo tempo nos obriga a participar como protagonistas. É a serenidade das certezas do passado misturada com a ansiedade das dúvidas do futuro temperadas com a realidade do dia a dia que por ser ás vezes dura nos deixa com aquela sensação de estar numa encruzilhada.
Habituámos-nos, por força de outras exigências, a conviver com o passado que não sabemos alterar e o futuro que não sabemos adivinhar e que a vida se torna um caos se tentamos esquecer estas implacáveis e inalteráveis verdades. A receita parece estar na concentração no presente que se for bem aplicada pode abrir, sem compromisso, caminho a um futuro melhor e se assim não for pelo menos poupa-nos a sofrimentos desnecessários.
Para servir como interlúdio vamos postar umas fotografias da (re)construção daquela que é a nossa habitação actual e que, desgraçadamente, demorou nove meses de uma gestação difícil cheia de percalços.
Como acreditamos nas leis da causalidade não vamos expiar aqui as transgressões que fizemos à lei divina tantas foram a pragas que rogámos ao aldrabão do "construtor" que, por qualquer causa, nos calhou em sorte. Foi exactamente essa péssima experiência que nos forçou a conhecer o homem que para além de ter terminado a obra tem, nestes últimos nove anos, feito todas as alterações e melhoramentos que entendemos por bem executar - o Sr. Tião - homem simples de muita sabedoria, pedreiro de profissão, abraça sem hesitações todas as tarefas que uma obra obriga. É, por assim dizer, um verdadeiro profissional multifacetado que alia a essa qualidade uma integridade digna de menção. Sobre ele falaremos mais adiante por ser incontornável nesta história.
Após este ensaio sobre a lei da causalidade que por ser integralmente verdadeiro deixaria qualquer budista orgulhoso das suas convicções, decidimos dar a estes próximos capítulos, com mais imagem do que texto, o titulo de "9 meses...9 anos..."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Como Aconteceu (Parte 10)

Começamos por reforçar a dose de caldos de galinha que é como quem diz tomámos algumas precauções que também não fazem mal e ainda porque a prudência assim  exigia. Como é sabido o entusiasmo tolda a virtude dos cautos mas neste caso, com a cumplicidade dos astros, resolvemos não exagerar no exercício dos cuidados prévios que receávamos viesse a revelar dificuldades que não nos apetecia somar às que já sentíamos.
Mesmo assim mobilizámos conhecimentos e à cabeça privilegiámos o parecer de alguém que sabe o que fazer de uma ruína tornando-a útil sem ferir a paisagem e para isso nada melhor que um arquitecto que por ser da família não nos fizemos rogados nem usámos de cerimónia até porque já o tínhamos forçado a participar noutras reconstruções bem mais difíceis que por não constarem em nenhum currículo universitário são de inestimável valor. Metáforas... coisas que mantemos sempre presentes mas que não fazem parte desta história. 
Outras romarias organizámos com amigos cujas opiniões foram bem-vindas e que não negamos terem servido principalmente de encorajamento. Sentíamos a necessidade de conjugar as forças que tínhamos e que conhecíamos com aquelas que por serem celestiais não compreendemos mas que em ocasiões passadas já nos tinham provocado arrepios na espinha.Claro que tivemos que subtrair as opiniões - vocês são malucos - que apesar de corresponderem a uma opinião quase generalizada e se calhar verdadeira da nossa maneira de encarar as coisas, também nos pareceu ser uma forma de alguns expressarem a vontade de também o ser.
Alguns dias depois firmávamos o acordo com a proprietária. senhora de muita lisura, honrou até final os compromissos assumidos e com a tranquilidade possível nestas coisas, tratámos das burocracias inerentes. No início do verão tomámos posse do edifício na aldeia da Gozundeira, nome que levámos algum tempo a assimilar e que tem origem nas eiras que por aqui existiam. Localmente a zona é conhecida pelos "Moinhos" razão que terá levado a que a rua fosse baptizada com essa designação (Rua dos Moinhos). O oeste é famoso pelos seus moinhos de vento mas aqui por ser um vale e dada a proximidade do rio Sizandro, são de água.    

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Primavera de 2002... os astros tinham ditado que seria a nossa casa...

Como Aconteceu (Parte 9)

No regresso demos largas à imaginação. O que fazer? Sem termos ainda uma ideia exacta da dimensão dos espaços, dividíamos já as áreas de acordo com as necessidades de cada um. As crianças aderiram de imediato ao sonho e logo começaram a disputar as melhores soluções. Na verdade o estado de degradação das duas casas era tal que mal pudemos ver o seu interior. A adega de grandes dimensões e em razoável estado de conservação, foi a zona da casa mais disputada e longas foram as divagações sobre a sua futura utilização. Sentimos que aquela casa já era nossa, a confirmação de tal certeza vinha de uma qualquer "força superior" que  parece ter tornado irreversível esse facto. Os astros tinham ditado que assim seria.
Acabados de chegar a casa precipitámos-nos para o telefone e, à senhora a quem os astros tinham já decidido passar à condição de "ex-proprietária", relatámos a nossa visita à ainda sua propriedade.
Vivia-se por esses dias a euforia do Euro (€). Levantavam-se notas como se fossem certificados de prosperidade eterna. Porventura como a nossa atenção estava dividida entre as obrigações profissionais e este desafio de mudança de casa, não nos entusiasmámos com a alteração da moeda. No entanto não estávamos isentos da dificuldade de adaptação e fazíamos, como toda a gente, contas à paridade com o escudo. Apesar dos sustentados conhecimentos de matemática que nos orgulhamos de possuir, sempre recordamos que foi com alguma atrapalhação que recebemos a notícia do valor de venda transmitido em Euros pela proprietária nessa mesma noite. Só para não darmos parte fraca evitámos a fatídica pergunta - e isso quanto dá em contos? - Ficámos de dar uma resposta mais tarde.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

... está muito velha e estragada, faz muito tempo que ninguém a habita...

Como Aconteceu (Parte 8)

Aparentados a membros de seita, em silêncio seguimos a senhora em todos os seus passos através da simpática aldeia e após atravessá-la, descemos uma estreita estrada ladeada por um riacho. Já tínhamos deixado o casario para trás quando avistámos do lado direito um conjunto de casas rurais de dimensão considerável e uma outra casa mais adiante. Nada mais parecia haver por perto. Aumentava a expectativa quanto ao destino. O passo lento da velha senhora impedia que o andamento fosse sincronizado com o  nosso ritmo cardíaco acelerado pela ansiedade. A curiosidade era grande até porque era a primeira casa que íamos ver decorrente da nossa prospecção. Mantendo o silêncio continuámos a descida até que, a nossa determinada guia, puxou por um baraço e do bolso do avental surgiu um molho de chaves tendo dele isolado uma e, como que a desculpar-se, disse - está muito velha, faz muito tempo que ninguém a habita... - e lá estava! A líder da pequena excursão acabava de abrir o loquete do conjunto de casas que havíamos avistado minutos atrás. De facto, como nos tinham dito, não era uma casa pequena, de pequena nada tinha.
Falta-nos a habilidade literária suficiente para relatar o que sentimos. Um cadinho emocional fundia as primeiras impressões. Apesar de ainda ser possível imaginar quão bonito teria sido tudo aquilo no passado , o estado de degradação era tal que nos deixou confusos. O que ainda hoje nos questionamos é a razão da imediata filiação àquele local. Nas cantarias podia-se ler que a construção datava de 1887. No lagar da adega a inscrição "1888" dava conta que, naqueles tempos, a edificação tinha uma velocidade muito própria, além de confirmar o que visualmente era evidente - a antiguidade dos edifícios.
Minutos depois pedíamos à solicita e recém-consagrada mediadora que nos facultasse o contacto da proprietária.  

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 7)

Como todos os bons momentos este também chegou rapidamente ao fim e à desilusão de não termos avançado na nossa missão misturou-se a serenidade que o ambiente proporcionou e como amanhã também é dia, resolvemos regressar. Quatro quilómetros a descer por entre uma paisagem genuinamente rural, chegados a um vale onde descansam as colinas que suportam o Sobral, deparámos com uma aldeia de paredes brancas e telhados encarnados que parecia ter deslizado suavemente e ali parado numa ordenação peculiar. O sol do fim da tarde evidenciava-lhe o contraste das cores proporcionando-lhe uma beleza tão distinta que logo nos apeteceu ver de perto e como ficava em caminho...
Subimos uma pequena rua que leva até à Praça Principal. Aí uma singela e simpática capela ostentando um campanário de dimensão condizente e um recatado café fazem as honras. E porque não? Pensámos... saindo do carro com aquela energia de quem enfrenta o destino, dirigimos-nos ao café. Entrámos obrigando  a  interromper a cavaqueira às três senhoras que lá se encontravam para que pudessem retribuir o nosso cumprimento e a quem de seguida "disparámos" a pré-fabricada pergunta - por acaso uma das senhoras conhece  alguém que tenha uma pequena casa para venda? - surpreendidas pelo rompante do cumprimento  seguido de um invulgar pedido, entreolharam-se como que para ganhar tempo e pensar, foram respondendo - assim de repente não estou a ver ninguém... bom! o "este e aquele", em tempos, mas não é aqui, é mais além... - como não obtivemos a resposta desejada, fomos agradecendo e debandando de volta ao carro. Já quase a arrancar a senhora mais idosa daquele grupo, dirigiu-se-nos - esperem! talvez uma casa muito velha lá pra baixo, mas não é pequena! 
Logo perguntámos como poderíamos ver a tal casa. A boa senhora logo se dispôs a fazê-lo depois de recolher a chave que guardava na sua casa no centro da aldeia. Entretanto foi explicando que lhe tinham confiado a chave para acudir a uma qualquer eventualidade e que em tempos tinha abordado a possibilidade de vender mas que o tempo vai passando e... venham ver e se ficarem interessados eu falo com a proprietária, concluiu.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 6)

Mais uma vez orientados para oeste, rumámos a Sobral de Monte Agraço onde tínhamos experimentado a boa sensação do espaço livre, paisagens verdes, pouco trânsito e como já se referiu, boas pessoas. Claro que, como ponto de partida, uma condição intransponível estava subjacente a tudo isto - a distância - tinha de ser relativamente fácil de percorrer não só pelos compromissos profissionais mas também pela parte da família que, de quinze em quinze dias, ansiosamente esperávamos ver reunida e que afinal estava também na origem de todas as decisões.
A pesquisa começou bem cedo sem contudo ter sido muito animadora pelos desencontros que o fim-de-semana causa e porque a Feira Mensal coincidiu com a nossa visita e deixara as pequenas aldeias despovoadas e portanto sem possibilidade de fazermos contactos. Artesanato, flores, tachos e panelas, vestuário de todos os géneros, loiças desviaram a nossa atenção e como atracção a bela da fartura que por muito desaconselhada não deixa de pertencer ao lote das tentações que, como é sabido, são as únicas situações em que não resistimos.
Perdida que estava a manhã para o nosso propósito, resolvemos almoçar. Ao acaso escolhemos um restaurante que por ser central nos pareceu bom para sentir o ambiente. Compensados com um delicioso bife, verificámos a calmaria das gentes e apesar de ainda forasteiros, sentimos uma enorme vontade de ali ficar desfrutando daquele atendimento tão gentil, tão diferente... a sensação era de que estávamos muito longe e afinal menos de 40 quilómetros nos separavam da casa que, apesar de ter sido cúmplice em momentos de muita felicidade, já tínhamos sentenciado à condição de boa recordação. 

domingo, 10 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 5)

Curiosamente tornou-se empolgante contar como tudo aconteceu. Não fora cá por coisas e desatávamos a contar os pormenores todos e isto era capaz de virar um daqueles livros típicos de pivot de jornal televisivo com 1001 páginas (a capa e "praí" 1000 folhas a seguir). Mas não!... não arriscaríamos abusar assim da paciência de ninguém até porque, se calhar, faltar-nos-ia inspiração para tanto.
Parte 5 - O tempo, ávido de nos consumir a existência, não dava tréguas. A semana corria entre canseiras, preocupações e o terminar e iniciar de acontecimentos. Não diferia muito da maioria dos que vivem na cidade só que nós, decididos a mudar, sonhávamos já com o refúgio que em breve encontraríamos e que nos libertaria dos males da urbe.
A contagem decrescente para o fim-de-semana não tinha como objectivo fazer a ponte por cima das obrigações profissionais por as entendermos como empecilhos de vida. Antes pelo contrário, ambos gostávamos do que fazíamos e cientes da sua importância dedicávamos-lhe toda a merecida atenção. Na verdade, desejávamos dar mais um passo naquela prospecção iniciada uns dias atrás e como desta feita todos estariam disponíveis, combinámos com antecedência como iríamos preencher o tempo de maneira a rever alguns locais e procurar novos.    
  

Início 2002 - A jornada de prospecção terminara era hora do descanso do Kiko, não tarda o despertador toca para mais uma semana de escola.

sábado, 9 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 4)

Em vão procurámos ser correspondidos às inúmeras tentativas de contacto com o número de telefone que a "imobiliária" anunciava. Mas já estávamos em campo e restava-nos usar os conhecimentos adquiridos de prospecção comercial, mistura de intuição com aventura, e  lá fomos perguntando aqui e acolá quem conhecia um terreno ou uma pequena casa para venda.
Nesse primeiro fim-de-semana deste trabalho sem a companhia da mãe que por dever profissional não nos pode acompanhar, o Kiko, o mais novo da família, que conseguindo falar horas a fio carinhosamente comparávamos ao animalzinho de orelhas grandes do filme Shrek, não deixou que o cansaço da jornada nos afastasse do objectivo.
O contacto com este e aquele permitiu-nos não só conhecer a zona como perceber que a atitude das gentes daqui era bem diferente daquela que constatávamos trinta e poucos quilómetros a sul. Pessoas simpáticas, em maioria bem humoradas, prestáveis e que iniciam o diálogo com o desconhecido com um cumprimento adequado à hora do dia. Aqui já tínhamos a certeza que o destino, o que quer que seja, nos tinha colocado na rota certa e que a partir de agora era navegar de olhos bem abertos para que a intuição nos mostrasse onde lançar a âncora.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Como Aconteceu (Parte 3)

Coincidência ou não, o destino tem destas coisas, passeava em Miraflores e consultando o escaparate de uma imobiliária procurava entre as várias ofertas, quanto espaço o nosso dinheiro podia comprar e desde logo ficou claro que, uma vez mais, teríamos que ser nós a procurar o nosso caminho tão elevados que eram os valores das propostas ali apresentadas com a agravante que nenhuma correspondia minimamente ao que sonhávamos. O nosso imaginário prendia-se com a minúscula casa que, ainda namorados, alugámos perto dos mares revoltosos da costa saloia e onde já  tínhamos experimentado o sabor do espaço (e outros...). Não era mudar de caixote que pretendíamos!... e lá estava num canto inferior da montra um pequeno anúncio que publicitava um terreno a preço diferente lá prós lados de Sobral de Monte Agraço e logo decidimos investigar.
Restava pôr em prática aquilo que a vida, por outras razões, já nos tinha ensinado - vale a pena lutar - e à boleia do velho ditado quem procura sempre alcança, no fim-de-semana imediatamente seguinte, fizemos-nos à estrada rumando a Oeste cientes que outros destinos mais apelativos não teriam correspondência nas nossas disponibilidades financeiras da altura nem nas que a imaginação podia projectar.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Como Aconteceu (Parte 2)

Esses fins-de-semana eram intensos, no pequeno apartamento as refeições sucediam-se entre brincadeiras, uma ou outra pausa para terminar uma tarefa inadiável e o inevitável filme que o video com dificuldade tentava levar até ao fim tantas eram as interrupções provocadas pelas idas à casa de banho, pipocas,  satisfação de sedes etc.
Estas e outras recordações são sempre uma boa razão para libertar uma lágrima que a lembrança de bons momentos justifica e ficarão agarradas aquelas memórias que o tempo não apagará.
Mas por esses bons tempos, de quinzena em quinzena, um problema começava a tornar-se evidente - o espaço - ou a falta dele. As necessidades das crianças iam-se diferenciando à medida que os interesses se distanciavam e as exigências escolares exigiam.
Quando o problema do espaço ameaçava dividir-nos obrigando uns a inventarem programas fora de casa para permitir que os outros se pudessem concentrar no cumprimento das obrigações escolares, resolvemos procurar um local que simultaneamente nos proporcionasse espaço físico e nos permitisse fugir do ruído daquele local perto de tudo.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Como Aconteceu (Parte 1)

Como Aconteceu (Parte 1)

Casámos em Dezembro de 2001 e mantivémo-nos num apartamento de Algés que todos consideravam bem localizado. Perto disto, perto daquilo, diziam. Achávamos então que habitar ali era, na altura, uma opção razoável. Quando os fins-de-semana se aproximavam e era altura de reunir a familia ao estilo "os teus, os meus e os nossos" tudo se complicava... a atrapalhação causada pela necessidade de bem receber as crianças que periodicamente iriam conviver com a recém-formada familia, apaziguando as emoções dos que recebiam, a enervação trazida pela dificuldade de atravessar a cidade misturada com a longa espera pelo jantar que parecia não chegar, a curiosidade das crianças em descobrir os cantos à casa tornavam, semana sim semana não, as sextas-feiras dias de enorme ansiedade e alegria.
Cansados de tantas emoções chegava a hora de descansar e como as idades das crianças não obrigavam a separações podiam todos ficar no mesmo quarto, deixando na sala o que as forças já não permitiam arrumar. Mochilas, livros, brinquedos, um ou outro sapato, ali jaziam até ao dia seguinte quando as forças, já recompostas, lhes encontrariam destino mais apropriado.